Um grupo de 20 profissionais técnicos de instituições responsáveis pelo monitoramento hidrológico nos países amazônicos participou do Curso de Hidrologia Amazônica promovido pelo Projeto Bacia Amazônica (OTCA/PNUMA/GEF) de 07 a 13 de outubro, na cidade de Novo Airão (AM). A iniciativa, uma parceria com o Instituto Francês de Pesquisa e Desenvolvimento (IRD), o Departamento de Geociências da Universidade Federal do Amazonas (UFAM) e a Superintendência do Serviço Geológico do Brasil (SGB) em Manaus, promoveu o nivelamento de competências visando subsidiar  o funcionamento da Rede Hidrológica Amazônica (RHA), que opera no Observatório Regional Amazônico (ORA) da Organização do Tratado de Cooperação Amazônico (OTCA). O curso abordou temas hidrológicos como o monitoramento de níveis e vazões de rios e reservatórios amazônicos, incluindo a construção de modelos e a observação da variabilidade fluviométrica a partir de dados de satélites. 

Na abertura do evento em Manaus (AM), a Secretária-geral interina da OTCA, Vanessa Grazziotin, o reitor da UFAM, Sylvio Puga, o representante substituto do IRD no Brasil, Jean Michel Martinez e a Superintendente do Serviço Geológico do Brasil, Jussara Maciel, destacaram a importância de formar capacidades técnicas nos países amazônicos para possibilitar a tomada de decisão e o planejamento estratégico com o fim de fortalecer a Gestão Integrada dos Recursos Hídricos (GIRH) e mitigar os impactos das mudanças climáticas na Amazônia. 

 

 

Em seu discurso inaugural, Vanessa Grazziotin informou que o Curso de Hidrologia Amazônica é o primeiro de uma série de capacitações previstas no Plano de Trabalho da RADA, a Rede Amazônica de Autoridades de Água. “A RADA foi criada pelos presidentes dos países amazônicos durante a Cúpula da Amazônia [realizada em 2023 na cidade de Belém], para fazer avançar a gestão compartilhada dos recursos hídricos da Bacia Amazônica. Suas atividades, impulsionadas pelo Projeto Bacia Amazônica – Implementação do Programa de Ações Estratégicas (PAE), incluem o Plano de Capacitação para a Gestão Integrada da Água, que hoje inauguramos com este Curso de Hidrologia Amazônica”, afirmou.

 

Aprendizagem ferramental 

Com uma programação intensiva que incluiu trabalho de campo, o Curso de Hidrologia Amazônica treinou os profissionais no uso de ferramentas hidrológicas para a operação da Rede Hidrológica Amazônica, de modo a elevar o seu funcionamento por meio do refinamento da obtenção de dados. Os trabalhos de campo aconteceram nas estações pluviométricas e fluviométricas de Novo Airão, cidade localizada às margens do Rio Negro, o maior afluente da margem esquerda do Rio Amazonas. 

O grupo de profissionais capacitados foram atualizados sobre o uso da Tecnologia ADCP (Acoustic Doppler Current Profiler), um método avançado de medição da vazão de rios e reservatórios, que obtém dados mais confiáveis que a medição mecânica. O professor William Santini, do IRD da Bolívia mostrou que, com a utilização de softwares matemáticos integrados ao ADCP, é possível obter com muita precisão o valor do fluxo de água, além de inúmeras informações extras sobre o comportamento do rio, como a direção das linhas de fluxos em diferentes trechos.

 

Em outra oportunidade, os profissionais conheceram o Método BaRatin, uma nova abordagem utilizada no monitoramento hidrológico para estimar a curva-chave de rios, ou seja, a relação entre o nível da água e a vazão, informação essencial para a predição de secas e inundações. 

Os alunos do Curso de Hidrologia Amazônica também receberam capacitação sobre monitoramento hidrológico por satélites, técnica que permite a aquisição de dados em tempo quase real e a ampliação do monitoramento hidrológico em regiões de difícil acesso. Até o momento, esta técnica tem sido pouco utilizada pelos países amazônicos, porém, com o avanço da validação dos dados ao nível nacional, ela poderá trazer um ganho substancial ao monitoramento hidrológico, com baixo custo financeiro e humano.

“O que aprendemos no curso é altamente aplicável e vital para a gestão integrada das águas amazônicas pelos países da região, uma vez que nos permite falar um mesmo idioma hidrológico para atuar futuramente de acordo com os mesmos padrões de monitoramento”, disse Carlos Henrique Millan Arancibia, especialista da Subdireção de Estudos e Pesquisas Hidrológicas do Serviço Meteorológico e Hidrológico do Peru. 

“Eu finalizo este curso com a missão de implementar em meu país as técnicas que aprendi. Me sinto também instigado a compartilhar este conhecimento em palestras para pesquisadores e profissionais que realizam trabalho de campo”, afirmou  Hector Fuenmayor García, gerente de hidrologia do Instituto Nacional de Meteorologia da Venezuela. 

 

Compartilhando experiências e informações 

O Curso de Hidrologia Amazônia foi também uma oportunidade para que os profissionais, que estavam ali como representantes das instituições responsáveis pelo monitoramento hidrológico nos países, explicassem ao grupo os modos de funcionamento dos sistemas nacionais, principalmente no tocante à obtenção e aferição de dados e ao uso de tecnologia. O compartilhamento de experiência e de informação é um processo fundamental para o avanço da GIRH na Amazônia e permitiu um aprofundamento da visão a respeito da realidade operativa em hidrologia, notadamente em relação às redes de estações e seus modos de operação em cada país.

Aprofundar o acesso a informações sobre o que está sendo feito em termos técnicos nas estações hidrométricas que os países mantêm em território amazônico é imprescindível para o processo de elaboração de um diagnóstico acurado do cenário atual sobre o monitoramento hidrológico na região. Os dados que reunimos durante o curso, que mostram diferenças e semelhanças entre os países, serão de grande valia para o desenvolvimento da Plataforma Regional Integrada de Informações sobre a GIRH na Bacia Amazônica”, afirmou o geólogo Naziano Filizola, um dos coordenadores do curso e especialista responsável pela criação da plataforma no âmbito do Projeto Bacia Amazônica.

A Plataforma Regional Integrada de Informações sobre a GIRH na Bacia Amazônica irá disponibilizar dados do Sistema Integrado de Monitoramento de Recursos Hídricos, que também está sendo desenvolvido pelo Projeto Bacia Amazônica, e irá operar conectada ao Observatório Regional da Amazônia – ORA, o Centro de Referência de Informações sobre a Amazônia da OTCA. 

O Curso de Hidrologia Amazônica também foi uma oportunidade para apresentar as propostas da OTCA sobre o estabelecimento de protocolos comuns para o funcionamento da Rede Hidrológica Amazônica (RHA). Uma vez revisados e aprovados pela Rede Amazônica de Autoridades de Água, os protocolos apoiarão os países na modernização e fortalecimento de seus sistemas de monitoramento, favorecendo o nivelamento de seus processos operativos e, portanto, uma análise mais harmônica e integrada das informações.

 

 

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