Os Protocolos Regionais de Monitoramento, aprovados pela Rede Amazônica de Autoridades de Água (RADA) em abril deste ano, vão ganhando vida graças ao compromisso dos Países Membros da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA) e ao protagonismo técnico de suas equipes de especialistas. Com o apoio do Projeto Cuenca Amazônica, a RADA promoveu em Brasília, de 29 de julho a 1º de agosto, uma capacitação técnica que representou um marco no processo de implementação dos quatro protocolos regionais para o monitoramento da qualidade e da quantidade dos recursos hídricos da Bacia Amazônica. A iniciativa também constituiu um passo importante para o desenvolvimento da Plataforma Regional Integrada de Informação sobre a Gestão Integrada dos Recursos Hídricos (GIRH) na Bacia Amazônica.
Durante os quatro dias do Curso Regional de Implementação de Redes de Monitoramento Hidrológico, Meteorológico e da Qualidade da Água da Bacia Amazônica, especialistas em hidrologia e meteorologia dos oito países amazônicos, reunidos nas sedes da OTCA e da Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA), aprimoraram o entendimento dos protocolos, compartilharam experiências, identificaram sinergias e buscaram refletir sobre caminhos comuns e práticos para o monitoramento integrado das águas amazônicas.
“A capacitação foi pensada para proporcionar aos participantes uma visão concreta da importância da GIRH na Bacia Amazônica, tal como definida no Programa de Ações Estratégicas (PAE). Buscamos promover uma compreensão estratégica sobre a relevância da troca de informações e dados na construção de cenários regionais e na análise de tendências hidrológicas — como variações de vazão, níveis dos rios, ocorrência de secas ou inundações. E conseguimos alcançar esse objetivo com alto nível de participação, envolvimento técnico e colaboração entre os países”, avaliou Naziano Filizola, consultor especialista em monitoramento do Projeto Bacia Amazônica e coordenador do curso.
Saber técnico e integração regional
Por meio de exposições técnicas e exercícios práticos de coconstrução da gestão de águas compartilhadas, o curso reforçou entre os participantes a importância de somar e potencializar as capacidades técnicas dos países amazônicos, com vistas ao monitoramento integrado da Bacia Amazônica. As equipes de especialistas dos países apresentaram suas experiências no monitoramento da quantidade e da qualidade da água, revelando realidades distintas, desafios comuns e evidenciando amplas possibilidades de cooperação. Esse intercâmbio também reforçou a pertinência da decisão de adotar protocolos regionais harmonizados para viabilizar a produção e o uso de dados compatíveis — base essencial para orientar ações conjuntas e fortalecer a gestão da água em escala regional.
A programação do curso incluiu ainda uma exposição da Organização Meteorológica Mundial (OMM) sobre o papel das redes de observação no fortalecimento da segurança hídrica, com foco na integração entre sistemas nacionais e na geração de dados climáticos e hidrológicos de qualidade. Também foi realizada uma visita técnica ao Centro de Instrumentação da Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA-Brasil), que apresentou tecnologias e procedimentos aplicados à operação e à calibração de equipamentos de monitoramento.
Um dos momentos mais elogiados pelos participantes foi o exercício prático de simulação em zonas transfronteiriças fictícias, que estimulou o trabalho conjunto e a resolução de desafios técnicos e operacionais inspirados em contextos reais de fronteira. Essa abordagem prática e integrada gerou reflexões importantes entre os participantes:
“Aprendi que é necessário entender que somos um todo. Não estamos isolados — nossos países fazem parte de um mesmo território, de um mesmo sistema. A natureza não reconhece limites políticos”, comentou Jorge Gonzalez, hidrólogo do Instituto de Hidrologia, Meteorologia e Estudos Ambientais (IDEAM – Colômbia). Ele também destacou o valor do trabalho multidisciplinar na construção de estratégias de monitoramento integradas: “O monitoramento precisa ser construído de forma conjunta, a partir de diferentes áreas do conhecimento. Cada profissão tem sua perspectiva, e é fundamental compreender os objetivos de cada uma para que o processo atenda, da melhor forma possível, às diversas demandas da região.”
Para Jeaneth Cartagena, especialista em qualidade de água e sedimento do Instituto Nacional de Meteorología e Hidrología -INAMHI do Equador, o curso representou a oportunidade de ampliar horizontes e fortalecer a atuação institucional: “Foi muito produtivo e enriquecedor. Compartilhamos desafios e fortalezas de cada país no monitoramento da água. Levo comigo conhecimentos que podem ser aplicados no meu país para contribuir com o monitoramento regional. É um grande incentivo saber que os dados serão compartilhados para apoiar a conservação da Bacia Amazônica como um todo.”
Já Nilton Fuertes, hidrólogo do Serviço Nacional de Meteorologia e Hidrologia do Peru, destacou o potencial do grupo formado durante o curso: “Foi muito importante conhecer colegas de outros países e entender como trabalham. São realidades diferentes, com métodos diferentes, mas que podem se complementar. O mais importante é que conseguimos buscar uma forma comum de atuar com um objetivo único: cuidar da Bacia Amazônica.”
Silvia Tamayo, coordenadora de Operação e manutenção da Autoridade Nacional de Agua do Peru, reforçou a ideia de multiplicação do conhecimento e cooperação como base para o avanço técnico: “O que estamos aprendendo agora será replicado em nossos países. Não pode ficar só conosco. Vamos compartilhar com nossos colegas, para que o conhecimento circule e fortaleça nossa capacidade de fazer uma ciência melhor e mais integrada.”
Rumo à criação do Grupo Regional de Monitoramento
Durante o Curso Regional de Implementação de Redes de Monitoramento Hidrológico, Meteorológico e da Qualidade da Água, os participantes trabalharam na elaboração de um Termo de Referência (TdR) que orientará o funcionamento do Grupo Regional de Monitoramento — instância técnica que será integrada por instituições nacionais responsáveis pelos serviços hidrológicos e de qualidade da água dos países amazônicos.
A futura criação do grupo representa um passo estratégico para fortalecer a coordenação técnica regional, apoiar a consolidação das redes de monitoramento da qualidade e da quantidade da água e impulsionar a implementação dos Protocolos Regionais de Monitoramento, no âmbito da RADA.
Impulso à Plataforma Regional de GIRH
Segundo Naziano Filizola, a capacitação técnica realizada em Brasília contribuiu para ampliar a compreensão coletiva sobre o valor estratégico da Plataforma Regional Integrada de Informações sobre a Gestão Integrada dos Recursos Hídricos (GIRH) na Bacia Amazônica e sobre a necessidade de fortalecer a participação técnica dos países no processo de sua construção progressiva, já em curso sob sua coordenação.
Além de ampliar o acesso a dados regionais confiáveis, a plataforma permitirá gerar cenários hidrológicos estratégicos, como balanços hídricos e tendências de vazão, secas e inundações na Bacia Amazônica. Com base em dados fornecidos pelos países, por meio do futuro Sistema Integrado de Monitoramento de Recursos Hídricos, será possível produzir indicadores regionais voltados à tomada de decisões, à conservação dos ecossistemas aquáticos e ao cumprimento de acordos internacionais.
“Se hoje temos informações globais sobre os rios do mundo, como as que a OMM publica, precisamos também construir um conhecimento mais preciso sobre a Bacia Amazônica. Saber como estão os rios da nossa região é essencial para orientar decisões, apoiar comunidades, melhorar a gestão e aumentar a resiliência — sobretudo frente às mudanças climáticas”, completou Naziano.
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